domingo, 26 de fevereiro de 2012

Artigo da Billboard - 1996

Coral de meninos lança 'Angelis': New Soul da Espanha
por Howell Llewellyn

MADRID - Dois anos após deslumbrar a indústria da música com o enorme sucesso dos cânticos de  'Gregorian', do coral dos monges reclusos do monastério de Santo Domingo de Silos, a Espanha está novamente presenteando nossas almas celestiais e musicais.
Antes dos monges, foram as freiras. Um coral de freitas de Benedictine do norte da Espanha entraram para as paradas em dezembro com sua própria contribuição de cantochão (espécie de canto gregoriano), embora no início de fevereiro, após semanas nas paradas, o álbum 'Cantate Domino, Alleluya' havia subido somente para a posição 22. Vendeu menos que 50.000 unidades de acordo com o registro da TV espanhola RTVE Música.
Saindo-se muito melhor, entretanto, é o chamado coral de "vozes brancas" de um dos mais conhecidos monastérios do mundo, El Escorial, localizado bem ao norte de Madrid.
El Escorial é um centro religioso em pleno funcionamento e possui um dos mais prestigiados corais de meninos do mundo, o Elbosco. A EMI-Hispavox decidiu tocar na veia espiritual, que foi não só refletido pelos monges e freiras mas por tais atos como de Enigma e Sacred Spirit, pela gravação do coral  dentro dos muros do monastério.
No início de fevereiro, "Angelis" do grupo Elbosco passou 10 semanas no topo das paradas, atingindo a posição 4, excedendo 150.000 unidades.
O gerente de produtos da EMI internacional Boris Aguirreche aponta que, ao contrário de outros atos espirituais, o Elbosco não utilizou material pré-gravado. Em vez disso, as vozes divinas dos meninos são combinadas com apoio instrumental mínimo e uma voz masculina em inglês que ocasionalmente ecoa como um tipo de "rap de igreja".
O coral de meninos usa algumas vozes femininas, mas o modelo deles para o álbum 'Angelis' é o som dos cantores castrados do' Italian Middle Ages', em vez do anterior e mais bíblico canto do grupo Gregorian.
"No entanto, a música é angelical, e esse é o porquê de estar vendendo" diz Aguirreche. "As vozes dos meninos são as asas que te levam ao céu. Através dos séculos, astrólogos, físicos e arquitetos tem atribuído qualidades mágicas ao El Escorial, e nós achamos que isso vem através da gravação."
Ao contrário do canto do grupo Gregorian de monges e freiras, 'Angelis' utiliza ritmos que não estariam fora de qualquer gênero contemporâneo. As 13 faixas contém um pouco de trance e techno.

Cópia do artigo original da revista Billlboard, 9 de março de 1996.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sobre o álbum Angelis

Em novembro de 1995, foi apresentado com certa magnificência em Madrid um álbum que, se não pode ser qualificado estritamente como novo, pode ter uma agradável intenção de unir qualidade e comercialidade com base na fórmula de misturar textos em latim e ritmos do século XX. A imprensa foi convocada em um avião que, desde o aeroporto de Barajas, fez a viagem de ida e volta entre Madrid e Zamora, uma parafernália cujo objetivo era de conhecer 'Angelis', o primeiro álbum de um grupo fictício chamado Elbosco, gravado pela Hispavox. Como já havia acontecido com o grupo Enigma quando lançou o célebre álbum 'MCMXC A.D.', um certo ar de mistério envolveu os responsáveis pelo projeto, mas, uma vez que o tempo levantou o misterioso véu, saíram à luz os nomes de Julián Ruiz (que assina com o pseudônimo de Rojotua), Javier Losada (Loxatus) e o respeitado maestro Luis Cobos (C. Max) como responsáveis pelo trabalho, trindade de renome internacional cuja união resultou a epígrafe 'Elbosco', que se deve à inversão silábica do sobrenome Cobos, e não ao onírico e surrealista pintor Hieronymus Bosch (El Bosco) que nada tem de angelical em seus trabalhos. O caso de Julián Ruiz responde melhor ao estereótipo da música apresentada em 'Angelis', mistura de conceitos, fórmulas e culturas; de fato, o Elbosco não é o primeiro nem o último grupo experimental que este comunicador genial retira das mangas, alguns deles junto ao próprio Javier Losada (Ars Mundi, Atlántida), outros de visão própria (Norte Lambert, Esperanto, Mistery of Sound) e, justamente um ano depois de 'Angelis', o denominado CCCP, em uma nova reunião com Cobos e Losada.

Os resultados obtidos em 'Angelis' foram contundentes na forma e muito interessantes no conteúdo, um som limpo e curioso suficiente para chamar a atenção do público, que foi estimulado por uma estratégia publicitária que dizia: "a música que te leva ao céu". Na realidade, em um contexto místico, pode-se escutar em 'Angelis' as vozes dos meninos da Escolanía del Monasterio del Escorial cantandas em latim, unidas a outras vozes anônimas - masculinas e femininas - cantadas em inglês, combinação de música coral  e pop com texturas eletrônicas, soul e hip-hop. O tema principal e o primeiro single do álbum leva o título 'Nirvana', que em suas primeiras notas parece que vai dar início ao Canon de Pachelbel, até a entrada das "vozes brancas" do coro (que recitam uma passagem do evangelho segundo São Lucas) e um ritmo leve conduzem o ouvinte ao estranho mundo das fusões tecno-religiosas que encontraram seu espaço no mercado atrás de outros êxitos como os do grupo Enigma, Adiemus ou, de maneira completamente pura, dos monges do Santo Domingo de Silos. 'Nirvana' é uma música bem sucedida, calma e que não sai da cabeça, que ficou famosa nessa época, e que foi utilizada na telona pelo genial diretor Danny Boyle ("Trainspotting - Sem Limites", "A Praia" e "Quem Quer Ser um Milionário?") no filme "Caiu do Céu (Millions)". Luiz Cobos já havia trabalhado com corais de meninos anos atrás (foi diretor da Escolanía de Loyola) por isso esta é uma característica forte do grupo, além de outras canções herdadas das influências do maestro, como do grupo de soul-rock dos anos 70 Conexión, por  exemplo em "A Kind of Birds", "Nebo" (outra surpresa do álbum, cuja voz masculina lembra suspeitosamente em tom de hip hop a uma outra voz - anos depois - na conhecida música "Clint Eastwood" de outro grupo fictício, o Gorillaz), "Soul Lives Forever" e "Life is One". "Children of light" se tornou outro pequeno êxito, por sua utilização na TVE (espanhola) para acompanhar as imagens do Tour de France (volta da França - ciclismo) de 1996; efetivamente, e relembrando outras canções cíclicas produzidas por Julián Ruiz (dos geniais 'Azul y Negro' ou do efêmero grupo Havana), "Children of Light" é uma música animada e cativante. Outras composições como "Zom" e "Angelis" apresentam um som mais relaxante no mesmo estilo otimista e iluminado do álbum, e que se destaca a última canção, "Blind Man", claramente baseada no ritmo romântico do músico grego Vangelis; curiosamente, basta acrescentar um 'V' ao título do álbum para encontrarmos o nome do próprio músico.

O Elbosco se tornou um surpreendente sucesso, superando o disco de platina duplo na Espanha e vendas milionárias no resto da Europa, América Latina e Austrália. Isso possibilitou a aparição, dois anos depois, de um segundo disco, chamado "Virginal", que sem a promoção, inspiração e originalidade do primeiro, passou despercebido. Em 2005, a gravadora EMI publicou uma reedição de 'Angelis' devido ao décimo aniversário do álbum, com novas músicas e o vídeo-clip de 'Nirvana'. 'Angelis' – que também contou com um disco de remixes – foi um trabalho de estúdio, de produção requintada (acompanhada de certa frieza) por parte desses três personagens ousados e visionários: Julián Ruiz, Luis Cobos e Javier Losada. Atualmente, são lançados poucos projetos como este, feitos com inteligência, qualidade e certas doses de irreverência, necessária para juntar um coral de meninos com ritmos eletrônicos ou, no projeto seguinte do mesmo trio, CCCP, trocar a epifania por um coral do exército russo.

Tradução do artigo encontrado no endereço
http://solsticiodeinvierno.blogspot.com/2009/11/elbosco-angelis-en-noviembre-de-1995-se.html
Acesso em 24/02/2012